Sou terapeuta ocupacional, mas preciso fazer as pessoas se escutarem para que se entenda se a questão está na pessoa idosa ou na expectativa da família. Vou dar um exemplo: A filha procura a terapeuta ocupacional para conversar sobre como melhorar a rotina da mãe que não aceita nada, que reclama para sair de casa e que sempre deixa todo mundo que quer ela (a mãe) feliz, irritado.
No entanto, nesses momentos, precisamos pensar até que ponto a energia do amor dos filhos, da boa vontade e investimento de tempo da família está direcionada para a atividade/ocupação certa. A fala dessa filha conta muito sobre muitas das histórias de familiares de idosos:
Filha: “Eu queria que mamãe fosse mais no shopping comigo!”. Eu: “Quem queria?”. Filha: “Eu!” (e aí surge um olhar de reflexão porque ela, a filha percebe… ela que queria, não a mãe). Eu, como terapeuta ocupacional que preciso inserir a pessoa idosa em atividades significativas para ela, chamo com gentileza essa filha/família à reflexão: “Vamos juntas, com sua mãe, pensar o que ela pode querer de atividade na rotina?”.
E, daí vem uma conversa que exige muito tato e gentileza, muita gentileza porque na expectativa da família que mamãe goste do que eles propõem, mora o amor, a vontade de “ver mamãe bem, feliz!!”. No entanto, muitas vezes, pelo estado de saúde ou pelo caminho que a pessoa idosa percorreu no envelhecimento ela não sabe mais o que quer porque faz tempo que não escolhe. Não escolhe mais a cor da parede de casa na reforma, não escolhe onde vai passar o Natal, não escolhe a roupa que gosta. E, muitas vezes não é por negligência da família, mas pela ansiedade de dar o melhor, de cuidar.
E, pode acontecer no momento da ocupação que a filha queria e criou a expectativa de ver “mamãe bem”, mamãe fica com raiva, não aceita, reclama… e todo mundo se contamina com a frustração, com a irritação. Está feito aí o cenário na cabeça da família: “mamãe não quer nada!”. Na cabeça de quem ama e tá direcionando a energia do cuidado na ocupação que deveria morar a felicidade de “mamãe”, mora a frustração de todos.
Eu sempre que posso, convido todos a refletirem sobre o “Eu” que existe nas expectativas da ocupação do outro, da rotina do outro.
Faz sentido? ❤️
#terapiaocupacional #envelhecimentosaudável