Convidada para palestrar sobre Felicidade na Velhice no Congresso Brasileiro de Geriatria e Gerontologia, sob a perspectiva de mostrar intervenções baseadas em ocupações, reencontrei artigos como Happiness: A Review of Evidence Relevant to Occupational Science – Felicidade: uma revisão das evidências relevantes para a ciência ocupacional.
Os cientistas ocupacionais devem sintetizar e aplicar o conhecimento gerado em disciplinas relacionadas para garantir o desenvolvimento contínuo da sua própria disciplina. Este artigo revisa as evidências disponíveis para os cientistas ocupacionais sobre a felicidade humana.
Este corpo de conhecimento pode ser utilizado por cientistas ocupacionais para entender melhor a experiência subjetiva do engajamento ocupacional.
Duas tradições filosóficas fundamentais nos estudos da felicidade, hedonismo e eudaimonia, são apresentadas e as teorias da felicidade humana, incluindo a teoria do ponto de ajuste, são descritas.
Várias áreas temáticas de pesquisa sobre a felicidade humana são revisadas. São revisadas as relações entre felicidade e saúde, situação de vida, objetivos pessoais, trabalho, voluntariado, flow, religiosidade e relacionamentos. Os estudos revisados destacam a centralidade da ocupação para a compreensão atual da felicidade humana.
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Aqui estão alguns trechos que podem interessar:
Felicidade e Dinheiro
A relação entre riqueza material e felicidade tem sido extensivamente estudada. Evidências sugerem que renda e felicidade estão relacionadas para aqueles que vivem na pobreza e que renda é um poderoso preditor de felicidade em países em desenvolvimento (Veenhoven, 2002).
No entanto, vários estudos longitudinais mostram que, à medida que a renda aumenta e se estabiliza, a felicidade permanece inalterada (Easterlin, 2003). Por exemplo, Myers (1993) estudou a relação entre renda após impostos e felicidade entre 1960 e 1990 e demonstrou que, apesar do aumento da renda, os níveis de felicidade permaneceram inalterados. Da mesma forma, Moghaddam (2008) usou um modelo Probit ordenado e os dados do General Social Survey (EUA) de 1998 para demonstrar que elementos não pecuniários (não relativos a dinheiro), como a fé, determinam significativamente a felicidade, enquanto o valor absoluto da renda nominal não. De acordo com essas descobertas, as pessoas relatam valorizar a felicidade muito acima da riqueza (Diener, Suh, Lucas e Smith, 1999).
Felicidade e Saúde
Uma revisão das evidências empíricas do efeito da felicidade na saúde física com foco na longevidade, avaliando assim se pessoas felizes vivem mais, concluiu que a felicidade não prediz longevidade em populações doentes; no entanto, a felicidade parece prever a longevidade em populações saudáveis (Veenhoven, 2008). O tamanho do efeito da felicidade na longevidade em populações saudáveis foi comparável ao de fumar ou não.
Relacionamentos, incluindo relacionamentos familiares e amizades, são fatores significativos na felicidade humana(Myers, 1993; Veenhoven, 1988). Relacionamentos pessoais íntimos com um parceiro e amigos estão fortemente correlacionados com a felicidade (Headey & Wearing, 1992), enquanto a solidão demonstrou estar negativamente associada ao afeto positivo e à satisfação com a vida (Lee & Ishii-Kuntz, 1987). O relacionamento foi especificamente identificado como significativo para o bem-estar (Argyle, 1987), com uma revisão concluindo que, embora a quantidade de interações não preveja a felicidade, a qualidade do relacionamento sim (Nezlek, 2000). Essa descoberta é corroborada por um estudo que explorou a relação entre personalidade, número de amigos, melhor qualidade de amizade e felicidade em jovens adultos (n 423) (Demir & Weitekamp, 2007). A análise de regressão hierárquica múltipla revelou que a qualidade da amizade previu a felicidade acima e além da influência da personalidade e do número de amigos, e as variáveis da amizade representaram 58% da variação da felicidade.
Mais evidências foram produzidas por um estudo de 222 universitários, onde os 10% superiores de pessoas consistentemente muito felizes foram comparados com pessoas medianas e muito infelizes. As pessoas muito felizes eram altamente sociais e tinham relacionamentos românticos e outros relacionamentos sociais mais fortes do que os grupos menos felizes (Diener & Seligman, 2002).
Estes são alguns recortes, não todos que o artigo traz. Foi para dar um “gostinho de quero mais” para o estudo desta relação incrível entre felicidade e ocupação humana.