Terapia Ocupacional: o sono e a relação com o desempenho das ocupações

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O sono é uma das atividades mais importantes do ser humano. Do ponto de vista cognitivo, traz benefícios que não são alcançados em nenhum outro momento do dia. Cada fase do sono tem em si, a possibilidade de restaurar funções cerebrais que interferem na capacidade de aprendizagem e na formação do traço de memória, entre outras funções cognitivas.

A manutenção da qualidade do sono é um dos grandes desafios da contemporaneidade; preocupações em excesso, fadiga, maus hábitos  tendem a nos levar para o status de “mal dormidores”, alterando a química cerebral. É durante o sono que nosso cérebro faz a limpeza do metabolismo neuronal acumulado durante a vigília facilitando a consolidação de novas memórias. Também é durante o sono que há a remoção de radicais livres que diminuem o risco de deposição de proteína beta amilóide. Isso só para citar alguns benefícios.

Como já foi dito, cada fase do sono trás benefícios específicos; enquanto o sono NREM ( fase 1, 2 e 3/SOL)  depura e remove conexões desnecessárias, o sono REM fortalece as conexões não removidas. A função do sono NREM pode ser comparada a uma mão ‘limpadora’ enquanto que a função do sono REM pode ser comparada a uma mão que esculpe e detalha as informações, sendo ambas complementares.

Alterações na arquitetura do sono estão diretamente implicadas nas alterações cognitivas com impacto concreto no cotidiano. Os ‘mal dormidores’ não raro, apresentam  lapsos momentâneos na concentração. O cérebro fica ‘cego’ por instantes (os chamados microssonos). Também podem apresentar tempo de reação lentificado, às vezes com omissões nas respostas. Podem apresentar diminuição/perda do insight além de poder permanecer ‘presos’ em circuito de modo padrão, correndo o risco de se transformarem em cérebros procrastinadores. 

Se pensarmos  nestas consequências associadas a uma condição de saúde como nos casos de Demências, Doença de Parkinson, AVE e TCE’s, podemos compreender o quão devastador pode ser a desorganização do padrão de sono nesses indivíduos. 

As intervenções voltadas à promoção da boa qualidade do sono tornam-se portanto, imprescindíveis. Estratégias medicamentosas podem ser adotadas, mas estratégias não medicamentosas que incluem mudanças comportamentais e organização da rotina  precisam ser fortemente consideradas.

Neste contexto, o terapeuta ocupacional tem muito a colaborar. A partir da identificação do perfil circadiano do paciente, de seu repertório de hábitos, das habilidades remanescentes e das condições ambientais ( físicas, culturais  e interpessoais), o terapeuta ocupacional pode auxiliar na construção de uma rotina estruturadora que promova um padrão de sono necessário para favorecer o metabolismo cerebral e por conseguinte,  melhorar sua performance cognitiva, trazendo engajamento no cotidiano e bem estar.

Autora: Ana Luiza Rodrigues da Costa Terapeuta ocupacional formada pela UFPE em 1985. Mestre em Serviço Social pela UFPE (2004), sócia e diretora clínica da REATO – Reabilitcao em Terapia Ocupacional. atendimento@toreato.com.br

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