Rotina e deficiência: é preciso ser inflexível?

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Por Regis Nepomuceno,  Terapeuta Ocupacional; Sócio da Inclusão Eficiente- Assessoria e Consultoria em Inclusão e Reabilitação; Mestrando em Tecnologia da Informação e Comunicação pela Universidade Federal de Santa Catarina; Mentor do LIFE- Programa de Intervenção Domiciliar e um dos criadores do Aplicativo Minha Rotina Especial.

A palavra Rotina conota socialmente uma carga negativa de realização permanente das mesmas coisas, muitas vezes associada à inflexibilidade de tarefas, o que leva ao tédio e poucas oportunidades de aprendizado. Porém, o que ninguém coloca em questão são os benefícios de uma rotina estruturada e flexível.

Para quem convive com pessoas com deficiência, a palavra “rotina” tem um peso muito forte, já que alguns métodos e técnicas de trabalhos garantem que estas pessoas se tornarão independentes e funcionais, se o dia a dia estiver extremamente organizado.

Não encarando esta obrigatoriedade de uma maneira rígida, observamos o desenvolvimento de pessoas sem deficiência e percebemos que as pessoas aprendem qualquer coisa através do decorrer dos seus dias, em todos os ambientes – seja na escola, em casa, no shopping ou mesmo na rua.

É preciso trabalhar dentro da realidade de cada criança, encará-la como ator principal de sua própria vida, entender a sua casa, a sua família, o seu meio. Isso fará com que se torne mais segura e eficaz em todas as tarefas da vida.

Quando consideramos a rotina de uma criança, pensamos em atividades que ela precisa desenvolver, como: alimentação, autocuidado, brincadeiras, tarefas escolares, lazer, entre outras. Ao pensarmos na rotina de uma criança com deficiência, terapias e outros cuidados são somados a essa lista. E então, já é possível uma reflexão: será mesmo a rotina uma grande vilã ou podemos vê-la com um outro olhar? Será que a rotina é apenas uma grade de horários difícil de cumprir? Será que tem que ser assim?

Se a criança aprende brincando, e muitas vezes imitando, por que não aprender agindo? Nem sempre é preciso brincar de vestir a boneca: é possível aprender a vestir-se, a cuidar do próprio material escolar, a entender de onde vem os alimentos, entender os contextos ou o papel de cada atividade proposta. Não podemos esquecer que cada criança tem suas particularidades e nem todas conseguem entender algumas abstrações; certas representações, portanto, podem não trazer o resultado esperado. Se é assim, que tal trabalhar com situações reais?

Ir ao supermercado, em alguns contextos, pode ser uma atividade enriquecedora; criar hábitos de higiene também. Saber quais as etapas de cada atividade também pode trazer segurança na execução de tarefas mais complexas e, assim, o novo vai causando menos insegurança, vai tornando-se concreto. Será que tudo isso é ruim? Claro que não!

A rotina não precisa aprisionar; pelo contrário, ela pode libertar. Libertar de inseguranças, de medos, desde que seja vista de maneira construtiva e acompanhada por profissionais especializados.

Se a aprendizagem de qualquer criança não está restrita à sala de aula, a de uma criança com deficiência nem é e nem pode ser diferente. Cabe aos profissionais desenvolver contextos estimulantes em diversos ambientes e permitir que essa criança aproveite, da melhor maneira, a sua rotina – em casa, na escola, no consultório -, com segurança, com liberdade para improvisos, alterações e mudanças. E certo que aprendizados podem ser construídos a todo o momento, sem precisar, para isso, transformar a casa da criança num quartel, mas apenas em um ambiente em que necessidades específicas devem ser respeitadas.

Acreditando nisso, a Inclusão Eficiente em Pernambuco trará, para a capital do estado, o curso: “Rotina: organização, exploração e estimulação cognitiva”, que será realizado nos dias 04 e 05 de junho, no bairro do Rosarinho, em Recife.

Conteúdo:

  • Cognição e bases do aprendizado
  • Desenvolvimento cognitivo
  • Recursos cognitivos e exploração no dia a dia
  • Função executiva
  • Rotina: organização e flexibilização
  • Entendimento da rotina da criança atípica
  • Autismo, deficiência intelectual e deficiências motoras
  • Contextos da criança e suas organizações: escolas, casa e meio social.
  • Conteúdo extra: aplicativo Minha Rotina Especial.

Para inscrições e maiores informações, enviar e-mail para: contato.pe@inclusaoeficiente.com.br

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