Faltam estudos sobre adolescente do espectro autista

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Por Sandra O. Monteirosandra.monteiro@usp.br

Entre 1% e 1,5% da população mundial apresenta características relacionadas ao espectro do autismo, como dificuldades de desenvolvimento nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, atividade imaginativa e cognição. No entanto, há uma grande ausência de estudos quanto a adolescentes inseridos nesse espectro. Isso dificulta entender em que momento eles devem ser incluídos em terapia. As alterações de linguagem e comunicação são parte fundamental dos critérios de diagnóstico e a intervenção terapêutica nessa área é fundamental para garantir o melhor desenvolvimento dessas pessoas.

De acordo com um levantamento realizado pela professora Fernanda Dreux M. Fernandes, do Departamento de Fisioterapia, Fonaudiologia e Terapia Ocupacional (FOFITO), da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP), de 2005 a 2010, dos 3.065 artigos publicados em revistas internacionais e nacionais sobre fonoaudiologia e autismo, apenas 56 versam sobre adolescentes, sendo somente 3 artigos brasileiros. E dos 1.356 referentes ao autismo, só 43 falavam sobre adolescentes.

No workshop Autism Cymru, que aconteceu em Cardiff, País de Gales, no mês de junho, a especialista analisa três estudos sobre o autismo na adolescência. O primeiro se refere à analise das evoluções clínicas de crianças e adolescentes autistas em um período de seis meses de terapia, concluindo que, embora todos os participantes tenham evidenciado evolução, as crianças progrediram muito mais do que os adolescentes.

Em uma segunda pesquisa, houve a comparação da evolução do desempenho de adolescentes submetidos a terapia fonoaudiológica desde a infância e daqueles que começaram a terapia mais tardiamente. Ficou evidenciado que existem diferentes ritmos de desenvolvimento, que são características individuais. Mas os sujeitos que tinham iniciado terapia enquanto crianças atingiram, em geral, patamares mais elevados de desempenho.

A terceira investigação considerou a melhor forma para avaliar o desenvolvimento de cada um dos pacientes estudados e as características da sua comunicação em três situações diferentes: sozinhos, em grupo com coordenação de um adulto, e em grupo, sem qualquer orientação. Foi possível observar que cada um adaptou seu estilo comunicativo às diferentes situações e necessidades de seus interlocutores.

Diagnóstico tardio
A professora Fernanda comenta que ainda é frequente que o diagnóstico seja feito em torno dos 7, 8 anos e que os autistas sejam encaminhados para o atendimento especializado adequado já no início da adolescência, especialmente nos casos em que as manifestações são menos intensas. Muito frequentemente, o diagnóstico demora a ser feito devido a ausência de instrumentos e exames específicos para isso, dependendo principalmente da avaliação clínica feita pelo médico. Por outro lado, a superlotação do sistema de saúde muitas vezes faz com que haja pouco tempo para que o diagnóstico seja discutido e suas implicações e consequências devidamente esclarecidas para as famílias.

Em maior ou menor grau, pessoas com distúrbios do espectro do autismo têm dificuldades de desenvolvimento nas áreas de socialização, linguagem e comunicação, atividade imaginativa e cognição. O grau de comprometimento em cada uma dessas áreas, entretanto, varia muito, de dificuldades muito intensas, que ocasionam graves dificuldades para o desenvolvimento no sentido da autonomia, até dificuldades sutis e específicas, que possibilitam o bom desenvolvimento desde que recebam a devida atenção. Estudos recentes indicam que a intervenção iniciada antes dos cinco anos de idade produz resultados mais efetivos, embora eles sejam observados também nos adolescentes. Dessa forma, o diagnóstico tardio frequentemente prejudica o período ideal para intervenção.

Mais informações: email fernandadreux@usp.br, com a professora Fernanda Dreux M. Fernandes

Fonte: usp.br

Imagem: mattbeckwith

Ana P.

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