Uso de jogos na Terapia Ocupacional: o recurso e a ocupação

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A Terapia Ocupacional tem passado por um processo de construção necessário para apropriação de seu objetivo maior: o envolvimento de seus clientes em ocupações que são significativas e necessárias (para ele!). E isso pode ser visto de forma concreta com o lançamento da quarta edição de um documento fundamental para os terapeutas, o Estrutura da Prática Domínio e Processo. A versão ainda não está traduzida para o Brasil, mas já pode ser encontrada no American Jornal of Occupational Therapy (clique aqui!).

Na história da Terapia Ocupacional (no Brasil e no mundo) existem o uso dos mais diversos recursos, desde recursos de artesanato até o uso das atuais tecnologias de ponta. Olhar os recursos ao longo da história pode não nos dar a clareza necessária das abordagens, modelos e teorias que os sustentaram/sustentam. Temos que ter uma atenção especial a isso quando queremos entender o que é a T.O e para onde a sua intervenção deve caminhar.

Recentemente ao escrever um capítulo sobre o uso de jogos e exercícios cognitivos na intervenção da Terapia Ocupacional – na data deste post o livro ainda não está publicado -, pude me debruçar sobre o tema e ter certeza que quando falamos sobre os jogos como ferramenta na prática da T.O podemos:

  1. O jogo na ocupação. Um material que existe e faz parte das atividades de lazer prazerosas que estão relacionadas com o entretenimento da pessoa que está em processo de intervenção com o terapeuta ocupacional.
  2. O jogo como ferramenta de apoio à ocupação. Estar usando um material que têm uma função (pode ser de avaliação) e objetivos claros no desenvolvimento de conhecimentos, habilidades e treinamento que respalde uma prática direcionada ao envolvimento das ocupações.

O primeiro olhar, do jogo de entretenimento, pode ter sim uma “validade terapêutica ocupacional” que justifique seu uso nas intervenções.  O cliente pode chegar ao terapeuta ocupacional com a demanda de “voltar a jogar xadrez com os amigos da praça”. O estar engajado no jogo é o objetivo que pode precisar de ações diversas a depender dos motivos que prejudicam esse desempenho. Podemos trabalhar restaurando habilidades, adaptando materiais, modificando os ambientes e etc. Tudo depende de uma complexa rede que está entre quem é o cliente, quais as demandas dessa ocupação de lazer e o quanto o contexto apóia ou desafia essa performance.

No segundo olhar temos o jogo como uma ferramenta que podemos denominar de “jogo sério” ou Serious Game. Uma denominação criada em 1970 por Clark Abit que foi visionário ao enxergar o jogo com características que poderiam ser aplicadas com outros fins além do entretenimento. O jogo sério tem um objetivo implícito (que pode ou não ser conhecido pelo jogador) que para nós, terapeutas ocupacionais, de alguma forma facilita ou apóia de alguma forma o envolvimento em ocupações significativas. O jogo sério pode ser utilizado em diversos contextos, por diferentes profissionais, mas no nosso caso precisa sempre ter essa clara relação. Podemos pensar em um jogo sério que vise ensinar as etapas de uma ocupação ou proporcionar um treino de uma determinada ocupação, como pode ser feito com o apoio de realidade virtual.

 

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