Por que a Terapia Ocupacional é importante para o Autismo?

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Estima-se que 60 a 70% das crianças com Transtorno do Espectro Autista (TEA) apresente um distúrbio sensorial (Adamson, 2006). Estudos têm demonstrado que as pessoas com TEA são mais lentas para integrar informações sensoriais recebidas por seus sentidos, tornando a sua velocidade de processamento muito mais lenta. Isso pode de alguma forma explicar por que as crianças com TEA são frequentemente sujeitas a “colapsos” (entenda-se reações exacerbadas) decorrentes da sobrecarga sensorial.

Crianças com TEA não têm os “filtros” apropriados para descartar informações irrelevantes e isso leva a sobrecarga sensorial.  Durante a aula, eles podem estar processando, por exemplo, o ruído do corredor, ao mesmo tempo que tentam lidar com as informações auditivas do professor explicando a lição e dos colegas que conversam em paralelo durante a aula. Essa sobrecarga sensorial pode se apresentar de várias maneiras, tais como comportamento desafiador, retirada e desligamento completo.

Existem, no entanto, um certo número de estratégias simples que podem ser utilizadas na sala de aula ou em casa para adicionar de forma eficaz os filtros sensoriais que muitas vezes essas crianças precisam. Os terapeutas ocupacionais são a chave para essa intervenção. Adicionando os filtros corretos e as intervenções, direcionando cada sistema sensorial, isso ajuda o sistema nervoso da criança se tornar mais organizado/regulado e, portanto, ajudando criança a ter atenção e desempenho eficazes no ambiente.

Você sabe o que é terapia ocupacional (TO)?

Os terapeutas ocupacionais trabalham para promover, manter e desenvolver as habilidades necessárias para que o cliente (neste caso, as crianças com TEA) seja funcional nos ambientes que participa. A participação ativa dessas crianças nos seus ambientes de vida promove:

  • Aprendizagem
  • Autoestima
  • Autoconfiança
  • Independência
  • Interação Social

Os terapeutas ocupacionais utilizam uma abordagem holística nos seus programas de intervenção. Eles levam em conta as capacidades e necessidades físicas, sociais, emocionais, sensoriais e cognitivas.

No caso do Autismo, terapeuta ocupacional trabalha para desenvolver habilidades para a escrita, habilidades motoras finas e habilidades da vida diária. No entanto, um papel muito importante é também avaliar e intervir nos distúrbios do processamento sensorial da criança. Isto é benéfico para remover as barreiras à aprendizagem e ajudar os alunos a se tornarem mais calmos e mais concentrados.

O trabalho de TO com as crianças que têm transtorno do processamento sensorial, muitas vezes é realizado por profissionais com a formação específica em integração sensorial. A Terapia de Integração Sensorial (TIS) é baseada na suposição de que a criança pode ser “hiper estimulada” ou “hipo estimulada” pelo ambiente. Portanto, o objetivo da TIS é melhorar a capacidade do cérebro de processar informações sensoriais para que a criança funcione melhor em seus ambientes durante com a execução de suas atividades diárias.

Para essas crianças são muitas vezes prescritas uma dieta sensorial pelo terapeuta ocupacional.

Entenda o que é uma dieta sensorial..

A maioria de nós inconscientemente aprende a combinar nossos sentidos (visão, audição, olfato, tato, paladar, equilíbrio, a consciência da posição do corpo no espaço – propriocepção), a fim de manejar nosso corpo da forma mais funcional possível no ambiente.

No caso da criança com TEA que apresenta disfunção na integração sensorial, cada uma terá um conjunto exclusivo de necessidades sensoriais, e essas necessidades são distintas, a depender do humor, do ambiente e da intervenção terapêutica.

A dieta sensorial é um planejamento de atividades diárias projetado de forma específica para a criança. Tem como objetivo incluir atividades sensoriais durante todo o dia da criança, a fim de melhorar o foco, a atenção e assegurar que a criança está sentindo ajustada durante todo o dia. Assim como o corpo precisa da comida correta e uniformemente espaçada ao longo do dia,  o corpo precisa de atividades para manter o seu nível de excitação ideal.

Uma dieta sensorial ajuda o sistema nervoso da criança a manter-se organizado e, portanto, auxilia na atenção e desempenho da criança. Um terapeuta ocupacional qualificado pode usar suas habilidades de treinamento e avaliação avançados para desenvolver uma dieta sensorial eficaz para o a criança com TEA a implementar ao longo do dia.

Os efeitos de uma dieta sensorial podem ser imediatos e cumulativos, ajudando a reestruturar o sistema nervoso da criança ao longo do tempo, de modo que ela é mais capaz de tolerar sensações e situações distratoras e desafiadoras. Além de também ajudar na regulação do estado de alerta e no aumento da capacidade de atenção. As estratégias usadas têm impacto na diminuição da busca sensorial e nos comportamentos evitativos,  auxiliando a lidar com transições sensoriais com menos stress.

Isso permite que a criança se concentre na tarefa que está realizando, no lugar de, por exemplo, ser distraída por estímulos, tais como, a sua etiqueta camisa batendo em seu pescoço ou o cheiro do creme para as mãos.

Uma pessoa com transtorno de processamento sensorial tem dificuldade para processar e agir de acordo com as informações recebidas do ambiente através dos sentidos, o que cria desafios na realização de tarefas cotidianas e pode resultar em, por exemplo, dificuldades de coordenação motora, problemas de comportamento, ansiedade, depressão, fracasso escolar , etc. Isto se o tratamento adequado não for procurado.

Na prática da Integração Sensorial, os terapeutas ocupacionais, muitas vezes, usam/orientam um circuito sensorial: uma série de atividades destinadas especificamente para despertar todos os sentidos de forma organizada. Eles são uma ótima maneira de energizar ou acalmar as crianças. O circuito inclui:

• Atividades de alerta (por exemplo, girar, saltar em uma bola de ginásio, pular, etc.)
• Atividades de organização (por exemplo, equilibrar-se sobre uma placa de oscilação, fazer malabarismos, etc.)
• Atividades calmantes (trabalho muscular intenso e profundo de pressão por exemplo, empurrar a parede) para dar uma consciência de seu corpo no espaço e aumentar a capacidade de auto-regular a entrada sensorial.

A intervenção da terapia ocupacional é comprovada  na melhoria da comunicação, das habilidades de interação e nas habilidades motoras. Além de reduzir a ansiedade e aumentar as oportunidades dessas crianças para prosperar e alcançar as demandas do ambiente.

É importante dizer que os distúrbios do processamento sensorial podem existir também na ausência de um diagnóstico de TEA.

Via: network.autism.org.uk | autoria: Corinna Laurie | imagem: Steve Corey

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Sou terapeuta ocupacional de formação, comunicadora por dom e experiência ao longo dos 10 anos frente ao reab.me; empresária que aposta na produção de produtos e conteúdos significativos e com propósito para ajudar as pessoas que precisam dos cuidado da reabilitação. Editora-chefe do Reab.me. Terapeuta Ocupacional (UFPE) com especialização em Tecnologia Assistiva (UNICAP). Mestre em Design (UFPE). Sou autora de 4 livros de exercícios para estimulação cognitiva que servem como material de apoio em contextos terapêuticos que visam a manutenção ou melhora de disfunções cognitivas. Sendo eles: - 50 exercícios para estimulação cognitiva: o cotidiano em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a culinária em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a família em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva de crianças com dificuldades de aprendizagem. No mais, sou Ana, esposa de Fábio, mãe de Olga e Inácio. Praticante de meditação e yoga.

10 COMENTÁRIOS

  1. Gostei muito do seu artigo Ana Leite. Meu filho foi diagnosticado recentemente com Síndrome de Asperge e tem 17 anos incompletos. Você acha que ele seria beneficiado com a T.O.? Pelo que li em seu artigo, eu acho que sim! Neste caso, você saberia de algum lugar gratuito aqui no Rio de Janeiro onde eu poderia levá-lo, com profissionais especializados? Desde já agradeço, com um abraço.

    • Oi Denise, acredito que sim, pode ajudar muito seu filho. Não saberia te indicar onde ir, mas peço que converse com o médico do seu filho, ele pode te sugerir uma instituição de confiança. =)

  2. Muito bom ter essas explicações. Obrigada.
    Meu sobrinho tem 2 e 9meses tá com suspeita de TEA e pra nos é tudo novidade, o médico já indicou as terapias, por isso, es te post foi muito esclarecedor.

  3. Saber o que pode ajudar no desenvolvimento de meu filho é maravilhoso, ele tem apenas 7 anos e foi diagnosticado aos 4 anos, melhor ainda seria poder vê-lo evoluindo com este atendimento, contudo, o único tratamento oferecido gratuitamente em minha região é o CAPS, atende 1 vez por semana em grupo terapeutico, o SUS também não disponibiliza o tratamento com TO, neste caso, sinto-me impotente e frustrada por não poder proporcionar a meu filho um tratamento eficiente para seu perfeito desenvolvimento. É apenas um desabafo.

    • Eu tbm ja me senti assim. Mais temos que pensar que nossos filhos passam mais tempo conosco do que com os terapeutas, entao precidamos dar uma atençao de qualidade a eles. Em casa podemos fazer muitas coisas bacanas. Brincadeiras, atividades motoras como subir e descer uma escada, fazer balanço, andar de bicicleta, desenhar… Tudo isso proporciona um bem estar enorme aos nossos filhos. As terapias sao importantissimas mais o nosso amor e dedicaçao tem um poder imensuravel!

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