O impacto da afasia na participação social e nas atividades cotidianas

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As afasias são distúrbios da linguagem provocados por lesões cerebrais focais, como em casos de Acidentes Vasculares Cerebrais (AVC), tumores, Traumatismos Crânio-Encefálicos (TCE). Essas lesões interferem na linguagem oral (compreensão e produção) e na escrita (leitura e produção) e, ainda, podem produzir outras alterações cognitivas, como dificuldade de atenção, de percepção e de memória.

Um estudo publicado pela Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia identificou e analisou o impacto das afasias na participação social e nas atividades cotidianas, bem como as implicações dos fatores ambientais nas limitações e restrições da participação segundo os critérios estabelecidos pelo modelo da Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (CIF).

A CIF é uma classificação de referência para a descrição dos estados de saúde que estabelece uma linguagem comum para a descrição completa da experiência de saúde de uma determinada pessoa. Como classificação de saúde, introduz um novo modo de compreender a situação de saúde de indivíduos ou populações, mais dinâmico, complexo e compatível com o quadro multidimensional que envolve a experiência humana.

Os resultados obtidos mostraram que todos os sujeitos da pesquisa indicaram deficiência das Funções do Corpo (com maior ou menor intensidade), realçando as dificuldades relativas às Funções Cognitivas Superiores e Funções Mentais da Linguagem. Por conseguinte, relataram dificuldades na Aprendizagem e Aplicação de Conhecimento, nas Tarefas e demandas gerais – Comunicação.

Pôde-se evidenciar ainda que as pessoas com afasia apresentam sérias restrições na participação e nas atividades, que envolvem a linguagem e os eventos que dela dependem: interação intrapessoal (íntima), interações interpessoais (básicas e complexas) – relações informais e formais com familiares e com estranhos, preparação de refeições, tarefas domésticas, ajuda aos outros, aquisição de bens e serviços, transações econômicas básicas e realização de trabalho remunerado. A maioria (67%) relatou dificuldades na interpretação verbal (recepção de mensagens verbais), contrariamente à interpretação da linguagem não verbal (16,6%).

Quanto aos fatores ambientais, a maioria dos sujeitos relatou a atitude e o apoio físico, prático ou emocional das pessoas com quem convivem diariamente como facilitadores completos. O mesmo não se aplica aos serviços, sistemas e políticas de reinserção para o trabalho, classificados, pela maioria dos sujeitos, como barreiras.

Portanto, a pesquisa evidenciou restrições resultantes da complexa relação entre afasia (fatores internos) e os fatores externos que representam as circunstâncias nas quais o sujeito vive.

A utilização da CIF no estudo possibilitou a compreensão do impacto da afasia na sobrevida dos sujeitos lesionados cerebrais. A classificação mostra-se pertinente em estudos relacionados a sujeitos afásicos pois possibilita uma visão multidimensional dos aspectos  que envolvem a afasia, ou seja, explicita a interação entre as questões biológicas, psicológicas e sociais, além de manter uma linguagem padronizada que possibilita a interação entre diversos campos da saúde, em nível mundial.

Para detalhes acerca do estudo:

POMMEREHN, Jodeli; DELBONI, Miriam Cabrera Corvelo; FEDOSSE, Elenir. Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde e afasia: um estudo da participação social. CoDAS,  São Paulo ,  v. 28, n. 2, p. 132-140,  Apr.  2016 .   Available from <http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S231
7-17822016000200132&lng=en&nrm=iso>. access on  09  June  2016.  http://dx.doi.org/10.1590/2317-1782/201620150102.

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Sou terapeuta ocupacional de formação, comunicadora por dom e experiência ao longo dos 10 anos frente ao reab.me; empresária que aposta na produção de produtos e conteúdos significativos e com propósito para ajudar as pessoas que precisam dos cuidado da reabilitação. Editora-chefe do Reab.me. Terapeuta Ocupacional (UFPE) com especialização em Tecnologia Assistiva (UNICAP). Mestre em Design (UFPE). Sou autora de 4 livros de exercícios para estimulação cognitiva que servem como material de apoio em contextos terapêuticos que visam a manutenção ou melhora de disfunções cognitivas. Sendo eles: - 50 exercícios para estimulação cognitiva: o cotidiano em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a culinária em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a família em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva de crianças com dificuldades de aprendizagem. No mais, sou Ana, esposa de Fábio, mãe de Olga e Inácio. Praticante de meditação e yoga.

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