O desenvolvimento motor dos bebês e crianças pequenas pode ser fortemente influenciado pelo ambiente da criança, bem como pela cognição. O estudo publicado na Revista Fisioterapia e Pesquisa mostrou resultados que apontam para uma tendência que já vem sendo observada na literatura: um ambiente rico em estímulos é capaz de minimizar os efeitos da vulnerabilidade biológica, bem como ambientes com oportunidades restritas podem potencializar riscos de atrasos no desenvolvimento.
Quanto à cognição é relação pode ser compreendida de forma simples pela ativação simultânea de áreas cognitivas na presença de ações motoras da criança e o inverso também é verdadeiro, as ações motoras estimulando áreas relacionadas à cognição (A cognição ativa principalmente o córtex pré-frontal, que é coativado em uma ação motora. No mesmo sentido, uma ação motora ativa o cerebelo, o qual também é coativado em uma tarefa cognitiva).
Dentre os fatores ambientais, o estudo chama atenção para:
Espaço do domicílio. O interior da casa e seus arredores são os primeiros ambientes vivenciados pela criança, e a ter espaço disponível para os pequenos é fator de proteção ao desenvolvimento motor, ou seja, permite o desenvolvimento pois há para onde se mover e o espaço estimula o comportamento exploratório, ou seja, a curiosidade em conhecer e mexer nos ambientes que têm acesso.
Aqui vamos abrir um parênteses quanto a importância dos brinquedos disponíveis no ambiente. Usar brinquedos apropriados estimula novas e variadas ações motoras e a resolução de problemas, e auxilia a coordenação olho-mão, desenvolvendo habilidades manipulativas. Disponibilidade de brinquedos fala muito sobre o comportamento cognitivo e motor de bebês, relação confirmada neste estudo. (Vale destacar que brinquedos adequados não significam brinquedos caros! Pais e cuidadores podem fazer seus brinquedos).
Práticas materna. Níveis mais baixos de escolaridade dos pais, principalmente da mãe parecem afetar de forma negativa o desenvolvimento infantil. A escolaridade materna interfere no cuidado da mãe com criança, na organização do ambiente e nas oportunidades motoras disponibilizadas para favorecer o desenvolvimento motor.
As mães que propiciam maior exposição a posições como de barriga para baixo e sentado sem suporte favorecem o desenvolvimento dos filhos, já as mães que carregaram seus pequenos muito tempo no colo minimizam as oportunidades para eles de desenvolvam. Estudos sugerem que mães brasileiras oferecem muito colo e poucas oportunidades para a criança ficar nessas posições ditas acima. Posições como as descritas, que demandam maior força muscular, devem ser exercitadas desde cedo. Cuidadores parecem evitar essas posições justificando desconforto das crianças e receio de morte por sufocamento, o que repercute em atrasos desenvolvimentais, fator que pode explicar resultados apresentados no estudo.
Idade do Pai. Filhos de pais mais jovens apresentam desenvolvimento mais pobre. As restritas oportunidades de interação de pais e filhos, que impactam negativamente o desenvolvimento infantil, podem ser decorrentes de cargas de trabalho elevadas dos mesmos. A idade dos bebês também pode ter contribuído, pois pais jovens podem demonstrar falta de conhecimento e insegurança no cuidado e estimulação de bebês pequenos.
Renda Familiar. Observa-se maior incidência de atrasos em crianças de famílias desfavorecidas socioeconomicamente, por estarem mais expostas a fatores de risco. Essas famílias têm menor disponibilidade de espaço físico, de brinquedos e tempo de interação com os bebês, possíveis fatores que explicam em grande parte esses resultados.
As fatores relatados acima receberam destaque no estudo, no entanto o aleitamento materno e o tempo na escola também foram associados com o desenvolvimento motor.
Aleitamento materno. Bebês aleitados por mais tempo apresentaram superioridade no desenvolvimento cognitivo e motor. A nutrição é fundamental no desenvolvimento e tem uma relação importante com a atividade cerebral. Estabelecer o vínculo entre mãe e bebê e o contato físico entre ambos estimula a ação motora, permitindo que as demais capacidades se desenvolvam. Diante dessas evidências, sugere-se um período mínimo de aleitamento de seis meses para prevenir condições indesejadas de atrasos, promovendo o desenvolvimento.
Tempo na escola/creche. Bebês provenientes de escolas com contextos mais apropriados ao desenvolvimento apresentam o desenvolvimento superior aos que não têm essa oportunidade. A escola infantil pode propiciar vivências de tarefas mais variadas que o domicílio, estimulando a motricidade, desde que o ambiente seja organizado de forma adequada. Neste estudo, os bebês parecem estar encontrando condições adequadas ao desenvolvimento nas escolas.
Tendo em vista que este estudo observou uma maior associação dos fatores ambientais com o desenvolvimento infantil, o mesmo sugeriu como repercussão prática, a necessidade de mapear crianças com maior risco para atrasos, e o treinamento e capacitação dos pais para criar oportunidades de desenvolvimento.
Pais e cuidadores que no estudo relataram de forma precisa as capacidades de seus filhos mostraram-se capazes de adaptar o ambiente de forma a enriquecer estímulos disponíveis. Para entender as necessidades dos filhos é imprescindível dispor de tempo para interagir com eles. Pais de bebês possuem interesse em receber informações que possam mediar o desenvolvimento de seus filhos; entretanto, muitas vezes não têm acesso às mesmas. Programas de educação parental que orientem os pais sobre atividades adequadas às capacidades da criança, moderando o uso de equipamentos e permitindo que a criança que mais tempo no chão são necessários na atualidade.
Orientações aos cuidadores sobre as diferentes formas de carregar e posicionar o bebê, a disponibilização de brinquedos e materiais variados e a adaptação do ambiente domiciliar podem potencializar trajetórias desenvolvimentais.
Ou seja, terapeutas, mãos à obra para divulgar e orientar a importância dos fatores ambientais no desenvolvimento infantil =)
Segue abaixo link para estudo completo: