O Guia “Redução do risco de declínio cognitivo e demência: diretrizes da OMS” lançado em 2019 pela OMS – Organização Mundial de Saúde – discute e mostra as evidências sobre as variáveis que representam riscos para o declínio cognitivo e a Demência.
A demência é precedida pelo declínio cognitivo. No entanto, nem todos que estão expostos a fatores de risco de demência irão desenvolver comprometimento cognitivo.
O conceito de reserva cognitiva tem sido proposto como um fator de proteção que pode reduzir o risco de aparecimento clínico de demência e declínio cognitivo. A reserva cognitiva refere-se à capacidade do cérebro de lidar ou compensar neuropatologia ou dano.
(Leia: Envelhecendo com saúde cerebral: veja como ter reserva cognitiva e afastar a demência!)
Estudos mostraram que o aumento da atividade cognitiva pode estimular (ou aumentar) a reserva cognitiva e ter um efeito tampão contra o declínio cognitivo rápido, bem como uma redução significativa no risco de diagnóstico de CCL ou DA naqueles que relataram alta em comparação com baixos níveis de atividades cognitivas.
O aumento da atividade cognitiva pode ser alcançado por meio de terapia de estimulação cognitiva e/ou treinamento cognitivo. A terapia de estimulação cognitiva refere-se à “participação em uma série de atividades destinadas a melhorar o funcionamento cognitivo e social” (Clare & Woods, 2004), enquanto o treinamento cognitivo se refere à “prática guiada de tarefas padronizadas específicas projetadas para melhorar funções cognitivas particulares” (Clare & Woods, 2004). Madeiras, 2004). A NIA (Estados Unidos da América) identificou o treinamento cognitivo como uma intervenção destinada a prevenir ou retardar o início do declínio cognitivo relacionado à idade, CCL ou demência clínica do tipo Alzheimer (Kane et al., 2017). Além disso, as diretrizes ICOPE da OMS (http://www.who.int/ageing/publications/guidelines-icope/en/) recomendam estimulação cognitiva para idosos com comprometimento cognitivo.
Essas intervenções foram avaliadas em relação aos resultados que foram julgados como críticos e importantes para essa população.
EVIDÊNCIAS E FUNDAMENTOS
Para estimulação cognitiva versus cuidados habituais ou nenhuma intervenção em idosos saudáveis, as evidências foram extraídas de uma revisão sistemática (Strout et al., 2016). Nenhuma evidência para adultos com CCL estava disponível. A revisão relatou que metade das intervenções avaliadas se mostraram eficazes para melhorar os resultados cognitivos em pelo menos um domínio cognitivo – função executiva, atenção, memória, linguagem e/ou velocidade de processamento (Strout et al., 2016). A qualidade da evidência foi baixa. Os resultados foram relatados na forma narrativa e nenhuma meta-análise foi realizada. Nenhuma evidência para CCL incidente ou demência estava disponível.
Para treinamento cognitivo versus cuidados habituais ou nenhuma intervenção em idosos saudáveis, as evidências foram extraídas de uma revisão sistemática (Chiu et al., 2017). A revisão realizou uma meta-análise que mostrou que o treinamento cognitivo em idosos saudáveis tem um efeito positivo moderado no funcionamento cognitivo geral. A qualidade da evidência foi baixa. Nenhuma evidência para CCL incidente ou demência estava disponível.
Para treinamento cognitivo versus cuidados habituais ou nenhuma intervenção em adultos com CCL, as evidências foram extraídas de duas revisões sistemáticas (Chandler et al., 2016; Sherman et al., 2017). Com relação ao resultado da função cognitiva, a qualidade das evidências é baixa, mostrando que o treinamento cognitivo em adultos com CCL tem um pequeno efeito positivo na cognição. Com relação ao desfecho da demência incidente, a qualidade da evidência é muito baixa, pois os resultados foram relatados narrativamente. Foi relatado que um estudo descobriu que metade do grupo de controle, mas nenhum do grupo de intervenção, desenvolveu demência no seguimento de 8 meses, enquanto outro descobriu que mais do grupo de intervenção relatou demência incidente no seguimento de 2 anos. (Chandler et al., 2016).
Com relação à qualidade de vida e nível funcional, a qualidade das evidências é baixa, mostrando que o treinamento cognitivo em adultos com CCL tem um pequeno efeito positivo nas AVD, mas não na qualidade de vida.
A evidência para intervenções cognitivas está principalmente em estudos com idosos. O GDD -guideline development group (WHO)- concluiu que nesta população os efeitos desejáveis da intervenção superaram os efeitos indesejáveis e forneceu uma recomendação condicional para treinamento cognitivo. A evidência de estimulação cognitiva na redução do risco de demência foi insuficiente e nenhuma recomendação foi feita pelo GDD.
RECOMENDAÇÃO DA OMS:
O treinamento cognitivo pode ser oferecido a idosos com cognição normal e com CCL para reduzir o risco de declínio cognitivo e/ou demência.
Qualidade da evidência: muito baixa a baixa
Força da recomendação: condicional