Artigo publicado na Revista Psicologia: Teoria e Prática estudou o uso e o comprometimento específico das estratégias de leitura em estudantes normoléxicos, aqueles que têm desempenho típico da tarefa de leitura, e disléxicos, aqueles com desempenho deficitário em tal tarefa.
O presente artigo divide-se em dois estudos: o primeiro conduzido com leitores típicos e o segundo com leitores com dislexia. Em ambos os casos, o objetivo foi identificar as estratégias de leitura usadas pelos distintos grupos por meio da avaliação de reconhecimento de itens isolados pelo teste de competência de leitura de palavras e pseudopalavras (TCLPP).
As estratégias de leitura referidas no estudo: logográfica, alfabética e ortográfica. De forma geral:
- A estratégia logográfica trata as palavras como se fossem desenhos e usam pistas contextuais para o reconhecimento, pautando-se em características visuais, incluindo letra inicial, tamanho da palavra, cor, formato global e contexto em que aparece.
- A segunda estratégia, a alfabética, faz uso de decodificação para o reconhecimento das palavras, com conversão dos símbolos gráficos em sons, por meio das correspondências entre grafemas e fonemas.
- A estratégia ortográfica, por sua vez, utiliza o reconhecimento da forma ortográfica das palavras, ou seja, do acesso ao léxico ortográfico, que contém as formas escritas de palavras.
Verificou-se, no estudo 1, que as três estratégias de leitura parecem consolidadas a partir da 6a série do ensino fundamental. Por sua vez, no estudo 2, identificaram-se prejuízos específicos nas estratégias alfabética e ortográfica, mais pronunciados nesta última, em crianças e adolescentes com dislexia. As limitações do estudo incluem o uso de amostras de estudos distintos, com uso de duas diferentes versões do TCLPP, o que impossibilitou a comparação direta desses dados, assim como o número reduzido de disléxicos, que dificultou a constituição de uma amostra mais homogênea. Apesar de tais limitações, o estudo ilustrou a abordagem da neuropsicologia na avaliação da leitura. A identificação de processos específicos subjacentes a dificuldades ou desempenhos é característica dessa abordagem e pode ser bastante útil na delimitação de intervenções.