Acordo Internacional sobre Ocupação

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O post de hoje é uma tradução (feita por mim, ou seja, merece revisão!) de um artigo BASTANTE interessante que encontrei no Jornal Asiático de Terapia Ocupacional. O artigo não trata especificamente sobre Reabilitação Cognitiva, mas é uma fonte interessantíssima para ajudar profissionais e familiares a entenderem qual o papel da Terapia Ocupacional e, consequentemente, o papel deste profissional com clientes de disfunção cognitiva.

Boa Leitura…

A Federação Mundial de Terapeutas Ocupacionais (WFOT) produz documentos e toma decisões que devem ser utilizadas por terapeutas ocupacionais no mundo todo. Isto, inclui definições de ocupação e de Terapia Ocupacional para utilização na “arena global”.

As exibições internacionais de Terapia Ocupacional (OT) pelo mundo coincidem com as da Organização Mundial de Saúde (OMS): a perspectiva de que a ocupação é a base da saúde. Todos os países membros WFOT aprovaram e felicitaram-se com o ressurgimento da discussão sobre a ocupação, o que tem sido abordado em documentos da WFOT. Exemplos dessa discussão por parte da WFOT incluem: os como do os padrões mínimos para a prática (WFOT, 2003), a definição de TO(WFOT, 2004a) e da Reabilitação Baseada na Comunidade (CBR) (WFOT, 2004b). Estes documentos confirmam que os terapeutas ocupacionais estão bem preparados para facilitar o desenvolvimento da comunidade, a promoção da saúde e a participação na comunidade através da ocupação (destaque da tradutora).

A Terapia Ocupacional é uma profissão com a causa da promoção da saúde e do bem estar através da ocupação. O principal objetivo desta profissãol é ajudar as pessoas a participar das atividades da vida diária e melhorar a qualidade de vida dos seus clientes. Os terapeutas ocupacionais podem alcançar este resultado, permitindo que as pessoas façam coisas que irão aumentar a sua capacidade de participar ou modificando o ambiente para uma melhor participação de apoio (WFOT, 2004a).

Esta definição reflete a atual convicção da OMS, representada pela Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (2002) e é acolhida pelos países membros. É importante destacar a ênfase na participação através da ocupação em todos  documentos como esse.

Através da documentação, a WFOT desempenha um papel de liderança no universo dos terapeutas ocupacionais e, papel de extrema relevância em outros organismos internacionais na compreensão das questões enfrentadas pelos profissionais que atendem pessoas desfavorecidas ao redor do mundo, por exemplo sociedades com conceitos de privação ocupacional (“apartheid ocupacional”),  onde é necessária a promoção de um acesso equitativo a uma variedade de ocupações que ajudam  a sustentar a saúde de todas as pessoas.

Os terapeutas ocupacionais estão comprometidos com  certos princípios fundamentais, um dos quais é o direito de todas as pessoas, incluindo pessoas com deficiência, a desenvolver sua capacidade e poder construir o seu próprio destino através da ocupação, o que parece congruente com os princípios básicos da CBR (WFOT, 2004b). A ênfase está na participação através de ocupação e das atividades de vida diária.

OMS desenvolveu a Classificação Internacional de Funcionalidade, Incapacidade e Saúde (2002), em resposta às mudanças no pensamento social nas últimas duas décadas. Onde 20 anos atrás, houve uma ênfase na institucionalização de pessoas com deficiência ou incapacidades, agora há uma ênfase nas questões de participação e de equalização para todas as pessoas da sociedade.

Essa ênfase está longe de considerar uma pessoa em termos de comprometimento e de desvantagem,  e sim para a perspectiva de uma pessoa como um ser humano que funcione em tarefas diárias, realizando uma variedade de papéis, sendo um membro da sociedade.
A OMS define a participação como o envolvimento em uma situação de vida e usa os domínios da aprendizagem e aplicação do conhecimento, a tarefa geral e demandas, comunicação, mobilidade, auto-cuidado, vida doméstica, as interações e relações interpessoais, áreas importantes da vida como o trabalho ou escola, comunidade , a vida social e cívica. (Você pode ver que os terapeutas ocupacionais têm uma participação importante na elaboração deste documento.) Para a OMS, estar participando implica estar envolvido, fazendo escolhas e assumindo riscos.
As implicações deste importante documento da OMS para a Terapia Ocupacional são de reforçar a prática centrada no cliente e de aproximar a T.O da comunidade, o que já está sendo implementadas em muitos aspectos da prática da Terapia Ocupacional. O foco da profissão, agora reforçada por este documento,  está em uma pessoa dentro de seu ambiente natural e sobre a sua rotina para a qualidade de vida do cliente. O foco deve estar na oportunidade do cliente para fazer a escolha, definir metas e as circunstâncias para o melhora controle, tornando a vida mais significativa.

O Rethinking Care from the Perspective of Disabled Persons (WFO, 2001b) apontou que deve haver uma abordagem holística de acesso, legislação e financiamento. Os terapeutas ocupacionais estão envolvidos na melhoria das oportunidades e de acesso para pessoas com deficiências relacionadas com a mobilidade, o estabelecimento de meios de informação acessível para pessoas com dificuldades de aprendizagem, bem como serviços de apoio adequados para aqueles com problemas de saúde mental e múltiplas deficiências.

Os terapeutas ocupacionais estão envolvidos em todos os níveis (nacional, internacional e local), com grupos de clientes e organizações desenvolvendo iniciativas de sensibilização pública para a importância da ocupação com a comunidade.

Como mencionado anteriormente, o Conselho da Organização Mundial de Saúde ratificou  documento tratando da  Reabilitação Baseada na Comunidade em 2004. O documento incorpora os conceitos de participação e de equalização, mostrando

como terapeutas ocupacionais podem facilitar este processo. O desenvolvimento deste trabalho foi um excelente exemplo de cooperação internacional e de comunicação global. WFOT teve a contribuição de terapeutas ocupacionais que trabalham em CBR em praticamente  todo o mundo.  Terapeutas ocupacionais discutiram, colaboraram e concordaram com os princípios que nós, como terapeutas ocupacionais precisamos defender, bem como discutiram estratégias para fortalecer e capacitar as comunidades e membros da comunidade a ir para além dos serviços de reabilitação,  construindo princípios da vida sustentável, integração de serviços e inclusão social.
Nós encontramos alguns de nossos terapeutas trabalhando com vícios, abuso sexual e violência na família/comunidade, que constituem ocorrências comuns em zonas de guerra. Notamos o papel da ocupação como uma ferramenta fundamental para a recuperação individual e coletiva.

Considerando-se o foco do serviço de Terapia Ocupacional – capacitando às pessoas a escolher, organizar e executar as atividades de vida diária que eles acham significativas e úteis em seus ambientes, proporcionando-lhes oportunidades de ganhar maior controle sobre sua saúde e seus destinos.
Terapeutas Ocupacionais são particularmente capazes no processo de criação CBR e desenvolvimento do programa, tanto a nível governamental como da comunidade. Os terapeutas ocupacionais fornecem aos trabalhadores comunitários e às pessoas com deficiência conhecimentos e competências que lhes permitem participar mais ativamente e tomar o controle de suas vidas e as vidas de outras pessoas dentro da comunidade.
Um bom exemplo vem das South Africa’s Grandmothers Against Poverty and Aids (GAPA). Um terapeuta ocupacional trabalha com as avós das crianças que perderam seus pais devido à SIDA. O terapeuta ocupacional encontrou mulheres deprimidas, angustiadas, frustradas e realizou um grupo de colchas de retalhos. Na atividade das colchas, discutiram seus problemaas, dos seus adolescentes órfãos e chegaram à soluções com apoio uma da outra. De uma pequena classe dentro de dois anos 17 grupos foram desenvolvidos e  outros são executados pelas avós que também oferecem apoio dentro de suas próprias comunidades.

Em conclusão, terapeutas ocupacionais usam uma abordagem que integra o conhecimento médico, social e as suas competências pessoais e a filosofia subjacente à Terapia Ocupacional, isto em sintonia com o que a OMS  e a CIF defendem.
Tradução: Ana Katharina Leite.
Fonte: Kit SINCLAIR; WFOT. International Agreement on Occupation. Asian Journal of Occupational Therapy. Vol. 7 (2009) , No. 1 p.27
Referências:
References
World Federation of Occupational Therapist. (2003). Overview of the WFOT minimum standards for education of occupational therapists 2002. Forrestfield, Western Australia: World Federation of Occupational Therapists.
World Federation of Occupational Therapist. (2004a) Definition of OT. Retrieved January 10, 2009, from http://www.wfot.com/office_files/final%20definitioncm20042.pdf
World Federation of Ocupational Therapist. (2004b). CBR Position paper. Retrieved January 10, 2009, from http://www.wfot.org/office_files/CBRposition%20Final%20CM2004(1).pdf
World Health Organization. (2001a). International Classification of Functioning, Disability and Health (ICF). Retrieved January 10, 2009, from http://www.who.int/classifications/icf/en/
World Health Organization. (2001b). Rethinking care from the perspective of disabled people. Retrieved January 10, 2009, from http://www.who.int/inf-pr-2001/en/note2001-16.
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Ana Katharina Leite

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Sou terapeuta ocupacional de formação, comunicadora por dom e experiência ao longo dos 10 anos frente ao reab.me; empresária que aposta na produção de produtos e conteúdos significativos e com propósito para ajudar as pessoas que precisam dos cuidado da reabilitação. Editora-chefe do Reab.me. Terapeuta Ocupacional (UFPE) com especialização em Tecnologia Assistiva (UNICAP). Mestre em Design (UFPE). Sou autora de 4 livros de exercícios para estimulação cognitiva que servem como material de apoio em contextos terapêuticos que visam a manutenção ou melhora de disfunções cognitivas. Sendo eles: - 50 exercícios para estimulação cognitiva: o cotidiano em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a culinária em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva: a família em evidência; - 50 exercícios para estimulação cognitiva de crianças com dificuldades de aprendizagem. No mais, sou Ana, esposa de Fábio, mãe de Olga e Inácio. Praticante de meditação e yoga.

1 COMENTÁRIO

  1. Olá Ana,
    Só posso parabenizá-la por toda sua iniciativa e respeito por nossa profissão. Gosto de tudo que vc publica!
    Beijos,

    Adriana Vizzotto
    TO do Hospital Dia Infantil e do Programa de Esquizofrenia (PROJESQ) do IPq-HCFMUSP e aluna de mestrado do Departamento de Psiquiatria da FMUSP

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