Cada um é um no envelhecimento cerebral: entenda o que é Declínio Cognitivo Subjetivo

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O aumento crescente da expectativa de vida é algo que já não soa como novo! Do ponto de vista da saúde, acompanhamos a “troca” das doenças infecto-contagiosas, pelas crônico-degenerativas. Conforme dados recentes da Organização Mundial de Saúde (OMS), o número de pessoas com idade superior a 60 anos chegará a 2 bilhões até 2050, ou seja, praticamente 20% da população mundial. No nosso país, conforme o Ministério da Saúde, em 2030, o número de idosos ultrapassará o total de crianças entre zero e 14 anos. Logo, toda esta mudança global faz com que as “doenças do cérebro”, ocupem um papel de destaque, tornando o envelhecimento o protagonista, tanto do ponto de vista científico, sendo alvo de numerosas pesquisas, tanto clínico.

Especificamente, o envelhecimento cerebral acarreta em várias mudanças cognitivas, principalmente, na lentificação da velocidade de processamento das informações, na “diminuição” da atenção e prejuízos da memória, e nas habilidades executivas, ou seja, os idosos costumam apresentar alterações nas capacidades de tomar decisões, planejar e organizar as ações, gerir o tempo, e de flexibilizar o pensamento. Conforme Bolla et al.(1991), dentre as queixas cognitivas mais frequentes encontradas em idosos saudáveis, destacam-se o esquecimento de nomes, de palavras e do local onde colocaram objetos, bem como, da perda do “fio do pensamento” em conversações.

O grande mote atual dos clínicos e pesquisadores da área é entender o quão “normal” estas alterações cognitivas são, uma vez que as novas evidências apontam para uma nova entidade subclínica, o Declínio Cognitivo Subjetivo (DCS). Este é caracterizado, conforme Neto & Nitrini (2016), por uma autoexperiência de deterioração no desempenho cognitivo, não detectado objetivamente nem por meio de testes neuropsicológicos formais, ou por exames de imagem. A grande questão, é que os dados epidemiológicos mostram que indivíduos com DCS encontram-se na zona de risco de progressão para demência. Além disso, há evidências de que este grupo tem maior prevalência de biomarcadores positivos para amiloidose e neurodegeneração. Porém, a doença de Alzheimer não é a única causa e várias outras condições podem estar associadas, tais como distúrbios psiquiátricos ou, até mesmo, o envelhecimento normal, sendo, portanto, o acompanhamento clínico especializado de extrema relevância. Fato é que, nenhuma queixa cognitiva deve ser menosprezada e o acompanhamento longitudinal é de importante valia.

O envelhecimento cerebral apresenta um ritmo diferenciado. Sabe-se, que quanto mais o cérebro for utilizado em atividades, como leitura, aprendizado de novos idiomas, exercício físico, mais tempo ele demorará para perder suas conexões e, consequentemente, apresentar uma perda sintomática. Tudo isto, graças à sua excepcional capacidade plástica. A partir da realização de forma sistemática e frequente de todos os estímulos citados acima, o nosso cérebro vai construindo e reconstruindo novas vias, novas conexões, que, durante o envelhecimento, são recrutadas a fim de compensar as dificuldades, inerentes a esta etapa da vida.

E você, o que está fazendo para cuidar do seu cérebro? Quanto mais precoce for a inserção de hábitos saudáveis em sua rotina, mais adaptado estará seu cérebro para lidar com as vicissitudes do envelhecimento. Por fim, fica a dica: ao cuidar da nossa saúde, evitamos tratar das doenças!

Autoria: Dra. Fabricia Quintão Loschiavo Alvares | Ph.D, M.D.| CREFITO – 4 / 8332 TO| Terapeuta Ocupacional | Especialista em Neuropsicologia| Formação em Avaliação e Reabilitação Neuropsicológicas na Universidade de Cambridge e Instituto Oliver Zangwill – Reino Unido Membro da Word Federation of Neuropsychological Rehabilitation

REFERÊNCIAS:

Bolla, KI; Lindgren, KN; Bonaccorsy, C; Bleecker ML (1991). Memory complaints in older adults. Fact or fiction? Arch. Neurol. 48(1): 61-64.

Molinuevo, JL; Rabin, LA; Amariglio, R, et al. (2017).Implementation of Subjective Cognitive Decline criteria in research studies. Alzheimers Dement; 13(3): 296–311. doi:10.1016/j.jalz.2016.09.012.

Neto, AS; Nitrini, R. (2016). Subjective cognitive decline :The first clinical manifestation of Alzheimer’s disease? Dement Neuropsychol;10(3):170-177.

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