Um dos maiores enigmas do Autismo está relacionado a sua maior incidência em homens do que em mulheres (chegando a proporção de 4-1). Aproximadamente 25% das pessoas com Autismo têm epilepsia, em comparação com 1% da população em geral. No novo estudo, os pesquisadores descobriram que as mulheres que têm tanto Autismo quanto epilepsia tendem a ter sintomas mais leves de Autismo, mas crises mais graves de epilepsia que os homens com esses distúrbios. A descoberta sugere que o que protege as mulheres do autismo não parecem protegê-las da epilepsia. Os resultados, publicados na revista Autism Research afirmam ainda que meninas com Autismo possuem um risco três vezes maior de ter epilepsia do tipo refratário (que responde pouco aos medicamentos).”É muito intrigante“, diz o pesquisador-chefe Karen Blackmon, professor assistente de neurologia da Universidade de Nova York.
Estudos anteriores demonstraram que a epilepsia afeta mais meninas do que meninos com Autismo. As novas descobertas servem como um alerta aos médicos que a epilepsia nessas meninas também podem ser especialmente difíceis de tratar.
“Os médicos têm que estar preparados para tentar várias medicações e ter a consciência de que muitas delas podem falhar na primeira tentativa” afirma Shafali Jeste, professora assistente de psiquiatria da Universidade da Califórnia, Los Angeles, que não está envolvida nesse estudo.
Blackmon e colegas acompanharam 125 pessoas com Autismo que procuraram tratamento para a epilepsia. Os participantes tinham idades entre 2 e 35 anos. Dos 97 meninos e homens, 24% não apresentaram resposta a duas drogas da epilepsia. Em contraste, 46% das 28 meninas e mulheres não responderam ao tratamento. Elas também tinham sintomas mais leves de Autismo do que os homens, de acordo com os questionários preenchidos pelos pais.
Os pesquisadores excluíram do estudo as pessoas com síndromes genéticas já conhecidas e ligadas à epilepsia, tais como Esclerose Tuberosa. Mas alguns participantes podem possuir variantes ligadas a ambos (Autismo e epilepsia resistente ao tratamento) tal como a duplicação da região cromossómica 15q11.13 – o que pode causar convulsões mortais.
As conclusões do estudo podem resultar das garotas e mulheres participantes possuirem um número desproporcional dessas mutações graves, diz Elliott Sherr, professor de neurologia da Universidade da Califórnia, San Francisco, que não estava envolvido com o estudo. Isso iria distorcer os resultados que sugerem que mais meninas do que meninos em geral têm epilepsia resistente ao tratamento, por exemplo.
Ainda assim, o trabalho lança um nova luz sobre observação sobreposta entre autismo e epilepsia. “Sabemos muito pouco sobre o subgrupo de indivíduos com [ambos] Autismo e epilepsia“, diz Christine Nordahl, professora assistente de psiquiatria da Universidade da Califórnia, em Davis, que não esteve envolvida no estudo. “Este estudo é um grande primeiro passo para explorar as diferenças de sexo neste subgrupo.”
Os pesquisadores também usaram ressonância magnética para explorar as possíveis bases neurológicas da susceptibilidade das meninas à convulsões intratáveis.
Eles descobriram que as mulheres que têm tanto Autismo e epilepsia são mais propensas do que os homens com ambos os transtornos a ter anormalidades leves, como displasias corticais, em que alguns neurônios na camada superior do cérebro não conseguem migrar para o local correto. Cerca de 42% das mulheres no estudo têm varreduras do cérebro incomuns, em comparação com apenas 19% dos homens. Estas anomalias são uma pista para o tratamento da epilepsia refratária em ambos os sexos.
Displasias corticais estão ligadas à epilepsia, mas algumas das outras anormalidades observadas no estudo são menores e podem não ser nocivas. Blackmon e seus colegas estão encontrando maneiras melhores para detectar displasias corticais e um plano para procurá-las através de um grande banco de dados de imagens do cérebro. A prevalência dessas anormalidades pode começar a explicar a ligação entre Autismo e epilepsia grave em meninas, diz Blackmon.
Referência:
1: Blackmon K. et al. Autism Res. Epub ahead of print (2015) PubMed
A neurocientista Aditi Shankardass, da Universidade de Harvard, já tinha dado essa pista alguns anos atrás: https://gagueira.wordpress.com/2010/06/30/nova-tecnica-de-eeg-revela-o-que-antes-era-invisivel/