Andador Infantil: conheça razões para NÃO TER

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É consenso que o uso de andador está contra indicado. Todas as Sociedades de Pediatrias – Brasileira, Americana, Canadense e outras, são contra o uso e a comercialização dos andadores infantis. Além de não haver benefício algum em seu uso, representa risco de lesões graves e ainda pode gerar atraso no desenvolvimento psicomotor. Todos aqueles que possuem andadores devem ser encorajados a levá-los a locais onde sejam destruídos e seus materiais reciclados. Mesmo com supervisão, a maioria dos acidentes acontece enquanto um adulto está cuidando da criança.

Os pais acreditam que, ao usar o andador, a criança estará segura e alegam várias razões para seu uso, como: estimular a marcha, manter a criança quieta e feliz, encorajar a mobilidade e independência, fazer exercícios e contê-la enquanto está se alimentando. Mas estão enganados!

Entenda as razões para nunca adquirir um andador infantil:

 

  • Risco de Morte

 

Os acidentes mais graves decorrem de quedas em escadas, degraus e desníveis de piso e afetam principalmente a cabeça da criança, que está mais exposta e desprotegida.  O andador permite que a criança se movimente com muita velocidade, até 1 metro por segundo!  Como ela consegue esta velocidade maior, também aumenta a força do trauma podendo gerar lesões mais graves, como fraturas e traumatismos cranianos. Ao apoiar os pés no chão, a criança pode impulsionar o corpo para trás e virar o andador, batendo a cabeça na parede ou no chão.

 

  • Atraso no Aprendizado e Desenvolvimento Motor

 

Segundo estudos, crianças que usam andador possuem escores inferiores nos testes de desenvolvimento e ainda andam mais tardiamente que as crianças que não o usaram, pois o uso do andador impede que músculos e tendões se formem de maneira estruturada e correta. E esta estruturação só é possível com os movimentos naturais de aprendizado dos primeiros passos.

Além disso, leva a prejuízo no estímulo ao fortalecimento muscular. A criança fica sentada em uma posição que força e roda as pernas para fora, o que não é bom para o encaixe entre a cabeça do fêmur e o quadril.

O exercício físico é na verdade muito prejudicado pelo uso do andador, pois, embora ele confira maior mobilidade e velocidade, a criança gasta menos energia com ele do que tentando alcançar o que lhe interessa fazendo uso apenas da força de suas próprias pernas, deixando assim de fortalecer a musculatura como deveria.

Quando a criança está sentada em uma cadeira rodeada por um para-choque enorme que lhe permite andar para qualquer lugar e bater em qualquer coisa sem critério, os mecanismos neurológicos responsáveis pelo equilíbrio não são de fato estimulados. Ela pode ainda apoiar os pés no chão de maneira inadequada, dobrando-os para trás, correndo o risco de lesionar os dedos dos pés e tornozelos.

Ao estar sentada num andador, a criança não visualiza onde os seus pés estão quando anda. Sermos capazes de observar o movimento das nossas mãos e pés é importante para o desenvolvimento do cérebro e da nossa propriocepção, que é a capacidade de reconhecermos a posição dos nossos membros mesmo sem olhar para eles. Assim, se a mesma não tem a oportunidade de experimentar essa sensação, isso pode afetar o seu equilíbrio e o seu desenvolvimento.

E atenção!! O uso de andadores pode levar a atrasos maiores ainda em crianças que já têm algum atraso no desenvolvimento, levando a problemas de equilíbrio e alinhamento.

  • Outros Perigos Importantes 

No andador, a criança está sentada a uma altura maior que deveria, o que lhe dá mais liberdade. Assim, consegue alcançar lugares mais altos e perigosos, pode esbarrar bruscamente em móveis, pendurar-se em fios mais altos, conseguir agarrar panelas quentes em cima do fogão, puxar a toalha da mesa, cair algum objeto sobre ela e alcançar produtos perigosos e tóxicos.

Ainda por conseguir alcançar alturas mais elevadas, pode sofrer queimaduras, ferimentos cortantes e intoxicações, devido ao acesso aumentado a produtos químicos e de uso domiciliar. São descritos ainda casos de afogamento, pelo fato da criança chegar mais rápido e cair numa piscina, banheira ou balde.

E lembre-se, a maioria destes eventos ocorre enquanto quem está cuidando da criança está por perto e simplesmente não consegue alcançar o equipamento.

ALTERNATIVAS:

São poucos meses que o bebê precisa para aprender a andar sozinho. Tenha paciência, incentive-a e se dedique em ajudar o seu desenvolvimento.

Sabemos que muitas vezes é difícil termos condições de vigiar a criança o tempo todo. Se você está ocupado no momento, é mais seguro deixar a criança no cercadinho com os brinquedos apropriados e com sua supervisão, do que no andador correndo por aí.  Priorize alternativas mais seguras e prazerosas, como o tapete de recreação – permita que a criança se desenvolva no seu próprio ritmo. Lembre-se de colocar dispositivos de segurança e prepare a casa para tornar-se um ambiente seguro.

 

Karen Baraldi CREFITO 23816-F | Fisioterapeuta – Especialista e Mestre em Neurociências

contato: ftpediatria@gmail.com | IG: @fisiopediatria 

 

imagem: adjie-babywalkers.blogspot.com.br

 

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4 COMENTÁRIOS

  1. Uma tese de doutorado desenvolvida no Programa de Pós-Graduação em Ciências da Reabilitação, UFMG, pela Dra. Paula Chagas (docente do curso de Fisioterapia da UFJF) acompanhou longitudinalmente dois grupos de lactentes nascidos a termo, a partir da semana em que iniciaram a marcha. Um grupo fez uso de andador infantil no período pré-aquisição da marcha (por opção dos pais) e o outro grupo não fez uso do andador. Crianças de ambos os grupos foram avaliadas na semana de aquisição da marcha e mensalmente até 6 meses pós-aquisição. Os resultados não revelaram diferenças entre os bebês que usaram e que não usaram o andador nos desfechos: idade de aquisição da marcha, desenvolvimento motor, padrão cinemático da marcha (i.e., variáveis temporo-espaciais e cinemática articular) e nem em variáveis percepto-motoras (i.e., habilidade para subir rampas de diferentes inclinações). Os 3 estudos dessa tese de doutorado foram desenvolvidos com grande rigor metodológico e as evidências questionam alguns dos pressupostos clínicos não testados empiricamente e que norteiam a prática de profissionais da saúde há algum tempo. Os resultados revelaram, por exemplo, que crianças que fizeram uso do andador infantil no período pré-aquisição da marcha NÃO apresentaram marcha na ponta dos pés, não tiveram atraso no desenvolvimento motor, não apresentaram anteriorização do centro de gravidade durante a marcha, e nem problemas nas articulações dos membros inferiores. Qualquer pessoa tem o direito de ter a sua opinião pessoal (i.e., gostar ou não) sobre o andador e outros contextos/equipamentos (i.e., piscina, escadas, brinquedos de playground, fogão, etc). Entretanto, orientação profissional precisar ser pautada em evidência científica. Muitos profissionais da área da saúde condenam o uso do andador infantil no período anterior a marcha independente por acreditarem que o seu uso prejudica o desenvolvimento de componentes essenciais para emergência da marcha estável. Os estudos desenvolvidos na tese de doutorado intitulada “Efeitos do uso do andador infantil na aquisição da marcha independente em lactentes com desenvolvimento normal” não evidenciaram efeitos positivos nem negativos consequentes do uso do andador infantil. A possibilidade de ocorrência de acidentes com bebês e crianças durante os primeiros anos de vida é real e é resultado direto da capacidade de supervisão dos pais ou cuidadores.

    • Olá Marisa, importante essa sua colocação. Gostaríamos de ter acesso as referências desses estudos para deixarmos disponível aqui para divulgação. Até então, o que tínhamos conhecimento, era sobre a ação para PROIBIÇÃO dos andadores da Sociedade Brasileira de Pediatria pautada em várias fontes, como relatórios da Academia Americana de Pediatria [http://pediatrics.aappublications.org/content/pediatrics/108/3/790.full.pdf] e na declaração conjunta da European Child Safety Alliance e da ANEC [http://www.childsafetyeurope.org/publications/positionstatements/info/baby-walkers-position-statement.pdf]. Agradecemos sua colaboração!

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