O reab não é mais uma parte de mim (Ana Leite). O reab cresceu, me ultrapassou, mas fincou suas raízes na minha vida. Me lembro do reab surgindo como blog, ganhando seu primeiro tema laranja (pois, é… éramos uma marquinha laranja) e sendo batizado com um nome gigante: reabilitacaocognitiva.org. Nome imenso para uma pretensão modesta: atrair clientes para nosso consultório (meu e de Paulinha).
Atendíamos em casa, mas queríamos um lugar físico para chamar de nosso; e óbvio, queríamos gente “visitando” a nossa “casa”. E isso até aconteceu, mas não durou muito porque a vida é impermanência. Confesso que agora não lembro a ordem dos eventos, mas sei que coisas extraordinárias de tão boas e profundamente desafiadoras de tão devastadoras aconteceram em nossas vidas, na de Paulinha e na minha, dando tons diferentes ao projeto inicial. Permanecer juntas na mesma cidade e limitadas as paredes de um consultório em Recife não era mais possível. A continuidade do recém-nascido consultório não era mais o foco, mas o reab tinha ganho espaço nas nossas vidas e mostrado (através de números que não entendíamos muito bem) o seu potencial. Ou seja, as pessoas acessavam, gostavam e voltavam. E queriam mais.
Tínhamos na época já nosso primeiro caderno de exercícios para manter os poucos custos que tínhamos com o site, ou melhor, blog. Na época esse era o melhor conceito: blog. Eu encontrei na escrita um grande prazer; era prazeroso e muito fluído descomplicar o mundo que eu tinha conhecido através da Terapia Ocupacional e sua relação com a cognição. E, cá entre nós, hoje eu sei o quanto contribui para a Terapia Ocupacional ser compreendida e adotada. Pelo menos, dentre as pessoas que que gostavam do mundo digital (que ainda era uma opção na vida das pessoas e não uma necessidade como é hoje).
Paulinha entrou de cabeça na nova vida em uma nova cidade, em um novo trabalho como T.O e permanece lá até hoje. Ela é feliz no que faz, e também é feliz sabendo que é também criadora de uma marca histórica da Terapia Ocupacional. Na época abracei o reab, coloquei ele no colo e disse: “Vou cuidar de você, enquanto você me ajuda a me manter nesse mar turbulento que está minha vida” (eu tinha perdido minha mãe e todos na casa do meu pai estávamos em um estado “pós-tsunami emocional”). E assim foi indo: eu ia atendendo menos meus pacientes, escrevendo mais no reab e tentando cuidar dos danos familiares e pessoais daquele período, até hoje tão profundos para mim”.
A história a partir daqui é tão longa e profunda quanto minhas emoções ao escrever esse texto. O reab me permitiu tanto… me permitiu ser a mãe dedicada, me permitiu ser conhecida por pessoas incríveis, me permitiu ajudar profissionais a famílias a cuidarem melhor. Me permitiu ver pessoas se enfileirando para me dizer obrigada pelo reab existir. Uau! O reab me levou a lugares incríveis que nunca imaginei. E, atualmente, vejo de forma muito clara o quanto o reab permite que eu me conheça para responder uma das perguntas mais difíceis do universo: “Quem sou eu?”. Claro que nem todo mundo se faz essa pergunta, mas sou reflexiva demais para deixar isso de lado. Aqui neste ponto do texto não vou aprofundar, estou aqui para falar do reab, não de mim. Mas posso dizer que já chorei algumas vezes achando que eu não dava ao reab o que ele precisava de mim: ser tratado como um negócio, como uma marca que precisa “gerar na alta”, uma objetificação de algo tão cheio de significado e que permite tanto para mim como pessoa, como mulher, como mãe…
Não menosprezo aqui a importância dos negócios. Afinal, todos temos contas a pagar e o trabalho precisa nos motivar desta forma também. Mas pude escolher sempre quando dar gás ao reab e quando me alimentar com o gás motivacional que o reab na sua complexa simplicidade tem.
E, agora na Pandemia mais uma vez essa retroalimentação aconteceu. Me esforcei pelo reab durante um tempo para dar a todos que nos leem informação e até reflexão, mas pude ser gentil comigo também e parar por 2 meses. Como negócio o reab gerou resultados que permitiram fazer isso, mas principalmente por ser o que é para mim pude ter o que eu precisava: tempo.
Amo você, reab. Obg.
E na foto deste post vcs veem uma imagem que ilustra de forma mais verdadeira e menos produzida quem sou eu neste exato momento.
Ana, sua escrita sempre honesta e consciente, nunca “postando por postar” qualquer coisa pra preencher espaço. Sempre refletindo e nos fazendo refletir. Você já sabe, mas… que baita orgulho que você é para a Terapia Ocupacional! E para a comunicação também.
Não nos conhecemos mas em um texto assim me sinto próxima de você e quis passar para te agradecer pelo reab. !
Um abraço fraternal,
Ana Elisa